Colonialism and Decolonization Processes in Brazilian Witchcraft

Estamos dando real suporte aos povos indígenas, oferecendo seu devido lugar na sociedade e lutando contra o seu processo de erradicação ainda presente? Ou só estamos nos preocupando em “conquistar mais um conhecimento para a nossa evolução espiritual”, pensando que “estes espíritos estão aqui também para usarmos pois são parecidos com os europeus que eu conheço” ou até mesmo que estes espíritos podem se sentir honrados se nós os forçarmos em nossas caixinhas de Bruxaria com raízes europeias, estrangeiras e embranquecidas?

- Por Lilo Assenci

English Translation here.

Are we giving real support to indigenous peoples, offering their proper place in society and fighting against their still present eradication process? Or are we only concerned with gaining more knowledge for our spiritual evolution, thinking that these spirits are also here for us to use because they are similar to the Europeans ones we know, or even that these spirits could feel honored if we force them into our Witchcraft boxes with European, foreign and white roots?

- From Lilo Assenci

Colonialismo e processos de decolonização na Bruxaria brasileira

Inicio este texto reconhecendo o local de onde eu o escrevo e desenvolvo minhas reflexões. Há muito tempo, seu verdadeiro nome foi perdido, e nem mesmo o nome original e real do povo tradicional que aqui viveu resistiu aos processos de colonização. Sendo assim, descrevo o local onde habito a partir dos seus três principais rios em seus nomes originais: Aperetei, Y-gûasu e Guandu, nomes dados pelo povo indígena que aqui vivia, o povo Jacutinga (posteriormente, os Cariri Chocó, Guarani Mbya, Puri, Tabajara e Tupinambá). Reconheço sua história sofrida, sangrenta, e a ferida aberta que ainda existe pelos anos de apagamento e erradicação do povo indígena que aqui vivia. Este reconhecimento vem com o compromisso de analisar radicalmente as relações de poder colonizadoras ainda existentes nesta terra hoje chamada de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, subvertendo e desmantelando este legado, em busca de recuperar a história, memória e honra do povo Jacutinga, Cariri Chocó, Guarani Mbya, Puri, Tabajara e Tupinambá.

Realizar um reconhecimento de terras ao início deste texto é, antes de tudo, uma forma de reconhecer as terras onde estou atualmente e sua história. E não somente a história contada em livros didáticos eurocêntricos ou aquela história que sua professora ou seu professor do ensino médio explicou de forma eurocentrada e leviana. Reconhecer uma terra, nestes moldes, é reconhecer uma história de colonização, de sangue derramado, de genocídio e de uma ferida aberta e silenciada em nossa sociedade. Pois, não importa por onde você anda em nosso país, estas terras são indígenas. Elas foram e ainda são. Antes, administradas, cuidadas, cultivadas, amadas pelos povos tradicionais que aqui viviam antes da invasão feita pelos países europeus. De acordo com Abel R. Gomez, Claire Chuck Bohman, & Corrina Gould (2020),

“Com a chegada do assentamento europeu, veio o violento e contínuo roubo de terras indígenas. Esse processo é frequentemente descrito como colonialismo de povoamento. Maile Arvin, Eve Tuck e Angie Morill oferecem uma definição útil: “O colonialismo de povoamento é uma formação social e política persistente, na qual os recém-chegados/colonizadores/colonos chegam a um lugar, reivindicam-no como seu e fazem o que for preciso para apagar povos indígenas que estão lá.” Como eles descrevem, o colonialismo de povoamento pôs em movimento uma série de sistemas, incluindo a imposição da supremacia branca e patriarcado, binarismo de gênero e heterossexualidade compulsória e várias formas de dominação para controlar, regular e aniquilar comunidades indígenas.” (Tradução de Mirna Wabi-Sabi, 2020).

Apesar de entendermos que o Brasil atualmente não é mais uma colônia, os efeitos do que chamamos anteriormente de colonialismo de povoamento persistem de outras formas, menos evidentes e mais silenciosas. Quando o governo Brasileiro possui um presidente que afirma que “cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”, ele nega a existência dos povos originários como humanos. Quando a política pública nacional acerca dos povos indígenas continua sendo desmantelada e suas terras continuam sem demarcações, nós não só negamos as suas existências, mas os silenciamos e abandonamos. Ou até mesmo quando queremos colocar um evangelizador de pessoas indígenas em um alto cargo dentro de um órgão oficial brasileiro responsável por uma política indigenista. É por isso que, atualmente, os estudos sobre processos decoloniais são de extrema importância.

Entendemos como decolonização um processo constante, uma luta contínua, onde não estamos pensando em transcender a história e a colonialidade, mas sim analisar radicalmente os processos coloniais ainda existentes em nossa sociedade (como os citados acima), em “uma tarefa urgente para o nosso presente de subversão do padrão de poder colonial.” (Resende, 2014). Um olhar decolonial sobre a nossa sociedade é um olhar analítico que se propõe a observar os movimentos realizados pelo ser humano ocidental, em todo seu aparato institucional-social-econômico-biológico, para erradicar, silenciar, apagar e desumanizar todo e qualquer indígena neste país. E não qualquer análise, mas uma que nos possibilite pensar maneiras de subverter e desmantelar este poder, esta colonialidade contínua.

Pensamos o termo colonialidade, distinto do termo colonialismo, a partir das concepções expostas por Assis (2014), partindo das ideias de Quijano (1997) e Castro-Gomez; Gosfroguel (2007):

Como algo que transcende as particularidades do colonialismo histórico e que não desaparece com a independência ou descolonização. Essa formulação é uma tentativa de explicar a modernidade como um processo intrinsecamente vinculado à experiência colonial. Essa distinção entre colonialidade e colonialismo permite, portanto, explicar a continuidade das formas coloniais de dominação, mesmo após o fim das administrações coloniais, além de demonstrar que essas estruturas de poder e subordinação passaram a ser reproduzidas pelos mecanismos do sistema-mundo capitalista colonial-moderno. Dessa maneira, a noção de colonialidade atrela o processo de colonização das Américas à constituição da economia-mundo capitalista, concebendo ambos como partes integrantes de um mesmo processo histórico iniciado no século XVI.

Mas, afinal, o que é pensar uma decolonização na Bruxaria? É pensar as dinâmicas de poder que estabelecemos com a terra e seus primeiros zeladores. É vislumbrar, mesmo que por um relance, se a nossa prática mágica ressoa em uníssono com a magia ancestral que percorre nossas paisagens, ou somente apaga essas magias. É raciocinar com toda a atenção se alguém, ao praticar sua bruxaria, não estaria apagando sistematicamente a história da terra em que vive. Apagando os nomes daqueles que vieram antes do processo colonizador europeu, apagando suas línguas e culturas. Apropriando-se de suas tecnologias mágicas, seu conhecimento milenar, retirando-os de contexto em nome de uma suposta “iluminação divina”, “transcendência da alma”, “evolução espiritual”. E quando me refiro a apropriar-se, me refiro ao fato de um ser humano ser capaz de retirar de um contexto espiritual e sagrado específico de um determinado povo indígena e encaixar em um outro contexto, geralmente europeu e embranquecido, em nome de uma sabedoria que o faça evoluir a qualquer custo. Mesmo que este custo seja desestruturar e erradicar a cultura de um povo, causando seu desaparecimento.

Veja, é possível que determinados conhecimentos e espíritos chamem por você. É possível que em seu caminho, espíritos que continuam vivos e possuem seus mistérios preservados de forma sistemática por seus sacerdotes e sacerdotisas chamem a sua atenção. Um queridíssimo professor de Bruxaria uma vez me disse que os espíritos de culturas que ainda resistem e existem vivas e prósperas, podem chamar por você, independente de quem você seja. E você pode escolher aceitar esse chamado ou não. A questão é pensar em como você responde a esse chamado, o que você faz com ele e de que forma você acredita ser responsável por levar este legado adiante.

Afinal, o que você faz com este chamado? Como você vivencia o conhecimento que te convida a dar um passo em sua direção? Você garante a sobrevivência destes saberes e espíritos dentro de suas culturas, respeitando o máximo possível a integralidade de sua tradicionalidade ou você os mescla em suas próprias práticas europeias, formando uma quimera, sem se preocupar nas consequências? Pode não parecer, mas a sua escolha em como você age sobre este chamado faz completa diferença no que tange a sobrevivência de determinada cultura espiritual. E muitas vezes, a melhor ação sobre um chamado é justamente atendê-lo para, então, não seguir por este caminho e guardar em seu coração, com carinho e respeito, o que ouviu sem sequer pensar em levá-lo adiante. O chamado dos espíritos também é sobre luto, perda, e escolhas difíceis que não tem a ver com o nosso ego, mas com o todo.

Portanto, como é a Bruxaria que você pratica no Brasil, entendendo-o como uma terra que foi colonizada, onde seus povos originários foram quase exterminados completamente? Qual o seu pensamento sobre utilizar vocabulário, técnicas, nomes, espíritos de povos indígenas que lutam para sobreviver, sem pensar em como isto apaga o contexto histórico onde tudo isto se insere? Pois, veja bem, você já parou pra pensar em todo o processo quando realiza essa apropriação de alguma cultura indígena?

Cada povo originário tem sua cosmogonia e mitologia, sua língua, sua cultura, seu modo de viver e interagir com sua terra e seus espíritos. E, entenda, a Bruxaria que o povo brasileiro pratica é de origem europeia, em maior ou menor proporção de importação de conhecimento. O pensamento de absorver cultura, tecnologia mágica e conhecimento dos povos indígenas pode parecer, em primeira instância, um trabalho de preservação deste “saber primordial e único”, mas o retira de um contexto maior. Este contexto é a prática cultural-religiosa de um determinado povo que, até os dias de hoje, lutam para preservar sua própria mitologia viva, seus próprios mistérios vivos. Mistérios estes que não fazem sentido fora de seu contexto, afinal, alguns mistérios podem ser universais, mas outros não o são. 

Há uma dificuldade de se pensar em quais seriam de todos e quais não seriam. Mas não há nenhuma dificuldade em entender que, quando decidimos que os mistérios dos povos já dominados são nossos, o que lhes resta? Como entender esses mistérios, se nossa relação uns com os outros, dentro de uma sociedade, é completamente ocidental e não partilha dos mesmos significados, verbetes, entendimento e sabedoria indígena? Aliás, por que nosso interesse tão grande nas “medicinas das florestas”, nos espíritos indígenas? O que eles tem que não temos? Partimos em busca de um elo perdido com aquilo que julgamos originário, primitivo, selvagem, que não nos pertence e nunca nos pertenceu enquanto pessoas ocidentais. A própria ideia da absorção de algo primitivo e selvagem reverbera pelo caminho de considerar, então, que os povos indígenas não são como nós, que eles não são humanos. Se somos humanos, o que sobra para eles?

É preciso questionar a nossa relação com a nossa terra e com os nossos povos originários. É preciso pensar qual é o nosso lugar neste processo de decolonização. Estamos dando real suporte aos povos indígenas, oferecendo seu devido lugar na sociedade e lutando contra o seu processo de erradicação ainda presente? Ou só estamos nos preocupando em “conquistar mais um conhecimento para a nossa evolução espiritual”, pensando que “estes espíritos estão aqui também para usarmos pois são parecidos com os europeus que eu conheço” ou até mesmo que estes espíritos podem se sentir honrados se nós os forçarmos em nossas caixinhas de Bruxaria com raízes europeias, estrangeiras e embranquecidas?

É preciso questionar cada uma de nossas ações, pensar se contribuímos para a morte dos nossos povos indígenas ou se damos suporte à sua sobrevivência. Até lá, o mínimo que podemos fazer é levar a frente a ideia exaltada por Ailton Krenak: “agir localmente, pensando globalmente”, reconhecendo as terras onde vivemos e seus povos originários. Este é o começo para curar esta ferida aberta há tantos séculos, herdada de nossos ancestrais, e que é nossa responsabilidade agora. Você aceita essa responsabilidade enquanto a Bruxa que é, em nome de sua relação com os seus espíritos, a sua terra, e a divindade que existe em você?


LILO ASSENCI

Lilo Assenci é uma bruxa, um padre, um coelho da lua, tradutor e professor. Membro do Comitê Editorial da Gods and Radicals, seu trabalho está profundamente conectado ao anarquismo, bruxaria, paganismo, folclore brasileiro e ativismo político-mágico. Ele faz parte das tradições da tribo Feri, Reclaiming e Hekate, tecendo magia, cura, ativismo em um trabalho de autodomínio e integração. Ele também adora café e leitura.


Translation

Colonialism and Decolonization Processes in Brazilian Witchcraft

I begin this text by acknowledging the place where I write it and develop my reflections. A long time ago, its true name was lost, and not even the original and real name of the traditional people who lived here resisted the colonization process. Therefore, I describe the place where I live from it’s three main rivers in their original names: Aperetei, Y-gûasu and Guandu, names given by the indigenous people who lived here, the Jacutinga people (and later, the Cariri Chocó, Guarani Mbya, Puri, Tabajara and Tupinambá). I acknowledge their suffered, bloody history, and the open wound that still exists due to the years of erasure and eradication of the indigenous people who lived here. This recognition comes with the commitment to radically analyze the colonizing power relations that still exist in this land today called Nova Iguaçu, in Rio de Janeiro, subverting and dismantling this legacy, in search of recovering the history, memory and honor of the Jacutinga, Cariri Chocó, Guarani Mbya, Puri, Tabajara and Tupinambá peoples.

Conducting land acknowledgment at the beginning of this text is, first of all, a way of acknowledging the lands where I am currently living and their history. And not only the story told in Eurocentric textbooks or that story that your high school teacher explained in a Eurocentric way. To acknowledge a land in this way is to acknowledge a history of colonization, of blood poured out, of genocide and an open and silent wound in our society. No matter where you are in the country, these lands are indigenous. They were and still are. Rather, administered, cared for, cultivated, and loved by the traditional peoples who lived here before the invasion by European countries. According to Abel R. Gomez, Clarie Chuck Bohman, & Corrina Gould (2020):

With the coming of European settlement came the violent, and ongoing theft of Indigenous lands. This process is often described as settler colonialism. Maile Arvin, Eve Tuck, and Angie Morill offer a useful definition: “Settler colonialism is a persistent social and political formation in which newcomers/colonizers/settlers come to a place, claim it as their own, and do whatever it takes to disappear the Indigenous peoples that are there.” As they describe it, settler colonialism set in motion of host of systems including the imposition of white supremacy, and patriarchy, gender binaries, and compulsory heterosexuality, and various forms of dominance to control, regulate, and annihilate Indigenous communities.

Although we understand that Brazil is no longer a colony, the effects of what we previously called settler colonialism persist in less evident and quieter ways. When the Brazilian government has a president that states that “more and more, indigenous people are becoming human beings like us”, he denies the existence of Native peoples as humans. When the national public policy regarding indigenous peoples continues to be dismantled and their lands remain not demarcated, we not only deny their existence, but we silence and abandon them. Also, when we want to put an evangelizer of indigenous peoples in a high position within an official Brazilian organization responsible for indigenous policy. That is why, nowadays, studies on decolonial processes are extremely important.

We understand decolonization as a constant process, an ongoing struggle, where we are not thinking of transcending history and coloniality, but rather radically analyzing the colonial processes still existing in our society (as mentioned above), in “an urgent task for subversion of the colonial power pattern today” (Resende, 2014). A decolonial view of our society is an analytical view that aims to observe the movements carried out by Western human beings, in all their institutional-social-economic-biological apparatus, to eradicate, silence, erase and dehumanize any and all indigenous peoples in this country. And not any analysis, but one that allows us to think of ways to subvert and dismantle this power, this continuous coloniality.

We see the term coloniality, as distinct from of the term colonialism, based on the concepts exposed by Assis (2014), with the studies of Quijano (1997) and Castro-Gomez; Gosfroguel (2007):

As something that transcends the particularities of historical colonialism and that does not disappear with independence or decolonization. This formulation is an attempt to explain modernity as a process intrinsically linked to the colonial experience. This distinction between coloniality and colonialism, therefore, allows to explain the continuity of colonial forms of domination, even after the end of colonial administrations, in addition to demonstrating that these structures of power and subordination began to be reproduced by the world-system mechanisms of the colonial-modern capitalist. In this way, the notion of coloniality links the process of colonization of the Americas to the constitution of the capitalist world-economy, conceiving both as integral parts of the same historical process that began in the 16th century.

But, after all, what is it to think about decolonization in Witchcraft? It is thinking about the dynamics of power that we established with the land and its first caretakers. It’s to glimpse, even if at a glance, if our magical practice resonates in unison with the ancestral magic that runs through our landscapes, or just erases this magic. It’s to ratiocinate very carefully if someone would not be systematically erasing the history of the land in which they live while practicing their witchcraft. Erasing the names of those who lived there before the European colonizing process, erasing their languages and cultures. Appropriating his magical technologies, his millennial knowledge, taking them out of context in the name of a supposed divine enlightenment, a transcendence of the soul, a spiritual evolution. And when I refer to appropriating, I refer to the fact that a human being is able to withdraw from specific spiritual and sacred context of a certain indigenous people and fit into another context, generally European and white, in the name of a wisdom that makes someone evolve at any cost. Even if this cost is to destroy and eradicate the culture of Native peoples, causing them to disappear.

See, it is possible that certain knowledge and spirits will call you. It is possible that on their way, spirits that are still alive and have their mysteries systematically preserved by their priests and priestess will attract your attention. A beloved teacher of Witchcraft once told me that the spirits of cultures that still resist, and are alive and prosperous, can call on you regardless of whom you are. And you can choose to accept that call or not. The main question is to think about how you respond to that call, what you do with it and how you believe you are responsible for carrying this legacy forward.

After all, what do you do with this call? How do you experience the knowledge that invites you to take a step towards it? Do you guarantee the survival of these knowledges and spirits within their cultures, respecting as much as possible the integrality of your traditionality or do you mix them in your own European practices, forming a chimera, without worrying about the consequences? It may not seem like it, but your choice of how you act on this call makes a complete difference when it comes to the survival of a particular culture. And many times, the best action on a call is precisely to answer it, so that you do not follow this path and keep in your heart, with affection and respect, what you heard without even thinking about taking it forward. The calling of the spirits is also about grief, loss, and difficult choices that are not about our Ego, but about the whole.

So, how is the Witchcraft that you practice understanding a land that was colonized, where its original peoples were almost completely exterminated? What is your thought about using vocabulary, techniques, names, spirits of indigenous people who struggle to survive, without thinking about how this erases the historical context in which all this is inserted? Well, you see, have you ever stopped to think about the whole process when you make this appropriation of some indigenous culture?

Each Native peoples have their own cosmology and mythology, their own language and culture, their own way of living and interacting with their land and its spirits. And, you see, the Witchcraft that the Brazilian people practice is of European origin, in a greater or lesser proportion of knowledge imports. The thought of absorbing culture, magical technology and knowledge of indigenous peoples may seem, in the first instance, to preserve this “primordial and unique knowledge”, but it takes it out of a larger context. This context is the cultural-religious practice of specific peoples who, until today, struggle to preserve their own living mythology, their own living mysteries. These mysteries that do not make sense outside their context, after all, some mysteries may be universal, but others are not.

There is difficulty in thinking which mysteries would belong to everyone and which would not. But there is no difficulty in understanding that when we decide that the mysteries of dominated peoples are ours, what is left for them? How to comprehend these mysteries if our relationship with one another, within a society, is completely Western and does not share the same meanings, entries, understanding and indigenous wisdom? In fact, why are we so interested in “forest medicines”, in indigenous spirits? What do they have that we don’t? We set out in search of a missing link with what we believe to be original, primitive, wild, which does not belong and never belonged to us, Western people. The idea of absorbing something primitive and wild reverberates along the path of considering, then, that indigenous peoples are not like us, that they are not human. If we are human, what is left for them?

We must question our relationship with our land and with our original peoples. It is necessary to think about our place in this decolonization process. Are we giving real support to indigenous peoples, offering their proper place in society and fighting against their still present eradication process? Or are we only concerned with gaining more knowledge for our spiritual evolution, thinking that these spirits are also here for us to use because they are similar to the Europeans ones we know, or even that these spirits could feel honored if we force them into our Witchcraft boxes with European, foreign and white roots?

It is necessary to question each one of our actions, to think about whether we contribute to the death of indigenous peoples or whether we support their survival. Until then, the least we can do is to carry forward the idea extolled by Ailton Krenak: “act locally, think globally”, acknowledging the lands where we live and their Native peoples. This is the beginning of healing this wound that opened so many centuries ago, inherited from our ancestors, and that is our responsibility now. Do you accept this responsibility as the Witch that you are, in the name of your relationship with your spirits, your land, and the divinity that exists in you? 


LILO ASSENCI

Lilo Assenci is a Witch, a Priest, a Moon Rabbit, translator and teacher. Member of the Gods & Radicals Editorial Committee, his work is deeply connected with anarchism, witchcraft, paganism, Brazillian folklore and political-magical activism. He is part of the Feri, Reclaiming and Hekate's Tribe Traditions, weaving magic, healing, activism into a self-possession and integration work. He also loves coffee and reading.

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